QUE SE LIXE! TANTO ESPECIALISTA!
Carlos M. Costa Almeida
Tenho internet fixa pela linha do telefone há muitos anos.
Umas vezes melhor, outras pior, nunca bem, frequentemente a falhar, o que não
raramente me desespera e atrapalha trabalhos que estou a fazer. Há tempo que
sei da fibra, que com essa é que é bom, mas, infelizmente, na minha zona, na
periferia da cidade, tem demorado a estar disponível.
Semanas atrás, o telefone fixo deixou de funcionar. E, naturalmente,
a internet, culminando um período de particularmente mau funcionamento. Liguei
para as avarias, e mandaram cá um técnico, que fez a avaliação do problema e
disse que iria providenciar o arranjo. Aproveitei para lhe referir os problemas
com a internet, ultimamente duma gravidade irritante. Pois isso não era a área
dele, ele era só dos telefones, mas, se a linha telefónica melhorasse, muito
provavelmente o acesso à internet também melhoraria um pouco. De qualquer
maneira – e, note-se, disse ele, apesar de não ser também a sua especialidade –
ele achava que já havia possibilidade de
fibra para a minha casa. Se eu quisesse ele iria informar a empresa da minha
necessidade (como se eles não soubessem, tantas vezes eu a protestar pela má
qualidade da internet!). Pedi-lhe por favor que o fizesse.
Passados uns dias, uma menina telefonou-me – a linha
telefónica já funcionava – a preparar-se para fazer um contrato comigo para
colocação de fibra em minha casa. Perguntei-lhe se, antes de mais, tinha a
certeza da possibilidade de acesso, e, caso afirmativo, como se faria tal
ligação. “Ah, isso é da área técnica, eu não sei nada disso. Mas eu vou dizer
para entrarem em contacto consigo”. “Pois é melhor, porque sem isso eu não faço
contrato nenhum” (claro que o que agora transcrevo em duas frases levou muito
mais tempo e mais palavras…).
Depois desse telefonema, e enquanto eu aguardava o contacto
do próximo especialista, o dos telefones veio de novo cá a casa, verificar a
linha. Aproveitei para tentar obter dele algumas informações técnicas sobre a
fibra. “Peço desculpa, mas como já lhe disse não é a minha área, terão de ser
os colegas da fibra a explicar-lhe”.
E continuei mais uns dias à espera. Finalmente, telefonou-me
outra menina, especialista da fibra, a confirmar que a minha casa já tinha
possibilidade de acesso. Perguntei como era feito esse acesso, explicou-me que
a fibra era um fio que viria até uma caixa de entrada em minha casa. Aí a minha
dúvida foi de como chegaria ao computador. “Através dum rooter”. Sim, mas onde ficará esse rooter, é a própria fibra que vai até ele, aproveita-se a
instalação telefónica existente, tem de se fazer outra instalação, terá de se
realizar alguma obra em casa?… “Bom, eu sou da área técnica da fibra, mas isso
que está a perguntar é com os técnicos da montagem, terá de lhes perguntar a
eles”. “Pois eu pergunto, mas só depois de eles me responderem é que eu me
decido…”
E passada mais uma semana continuo à espera do especialista
da montagem da fibra. Já pensei ir à internet ver se aprendo como é… Mas sempre
abominei os que não sabem nada dum assunto e vão à internet aprender tudo para
depois discutir com quem sabe. Incluindo assuntos de medicina, por parte dos
doentes… E, bom, se há especialistas tão especializados, que diabo, não deve
ser assunto fácil…
Ora, que se lixe! Tanto especialista! Acho que vou deixar como
está! Assim como assim, pelo menos já conheço o especialista dos telefones!
Director
de Serviço de Cirurgia, CHUC-Hospital Geral; Professor da Faculdade de Medicina
de Coimbra
Artigo publicado na Revista da Ordem dos Médicos, Janeiro 2017
1 comentário:
Isto é exatamente o que os doentes sentem em relação à medicina atual... Tanto especialista, e os doentes são como bolas de ping pong entre as diferentes consultas para resolver um problema simples! Com a diferença que eles não podem deixar como está , têm mesmo de se sujeitar ao calvário de visitar todas as capelinhas
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