ANTÓNIO
ARNAUT
Habituei-me a ouvir o seu nome desde o começo da minha
carreira como especialista, desde o início do Serviço Nacional de Saúde e ao
longo dos anos que ele tem. Mas uma coisa é ouvir falar do ministro que criou
as bases para revolucionar a assistência médica no país, ou do político
defensor das suas causas e do que na sua óptica considerava justo e mais
adequado à sociedade que ele procurava moldar, ou do advogado eloquente, ou do
poeta que ele era, outra foi conhecê-lo pessoalmente. Conversar com ele, ser
comensal à mesma mesa, trocarmos ideias, sobre grandes e pequenas coisas, ao
longo de viagens em conjunto, participar em debates em que ele também
participava, ter a honra de o ver apresentar um livro escrito por mim, sobre,
naturalmente, a Saúde, o Serviço Nacional de Saúde, as Carreiras Médicas, um
assunto que desde cedo, e acidentalmente, o tomou na sua vida política activa e
que, mesmo depois dela, nunca mais abandonou.
Foi ao conviver com ele, ao tê-lo como amigo, que pude
testemunhar os seus modos afáveis, mesmo para aqueles com quem não concordava,
mas mantendo a segurança das suas ideias, sem fazer cedências, nem sequer de
circunstância, àquilo em que acreditava e por que se batia com denodo e
persistência. A sua simplicidade de modos e de estar, mas que prendia todos os
que com ele falavam ou apenas o ouviam. O seu espírito de humor arguto, a
atenção que prestava a tudo o que o rodeava. A sua confiança no que sabia, sem
deixar de aprender e sem perder a capacidade de se surpreender e entusiasmar
com o que de novo lhe aparecia. A sua vontade de melhorar constantemente. A sua
alegria de viver e de ter vivido, contagiante.
Foi um privilégio conhecê-lo. Para além da obra a que deu
origem, para além daquilo que neste pais representou, para além daquilo que
realizou. É, sem dúvida, daquelas pessoas que gostaríamos sempre de encontrar
outra vez.
Carlos Costa Almeida
Presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Carreira Hospitalar