27.11.11

Algumas reflexões sobre o tempo que passa

É natural que os médicos se preocupem sobretudo com os problemas da saúde. Mas no momento crucial que a Humanidade atravessa, em especial na Europa do euro, os problemas sociais e financeiros assumem um papel que a pouco e pouco nos domina cada pensamento e atitude. Uma tremenda crise financeira se instalou, com alguns Estados europeus – infelizmente o nosso também – sem dinheiro para pagar as dívidas que tiveram de contrair para terem liquidez para assegurar os serviços que cumpre aos respectivos governos prestarem.
Portugal vive, assim, mergulhado numa crise financeira para a qual, afirmemos sem qualquer peso na consciência, os portugueses, o povo, pouco ou nada contribuíram. Trabalhámos, exercemos a nossa profissão, ganhámos dinheiro, gastámos, pagámos impostos, alguns pediram dinheiro emprestado aos bancos (que é para isso que servem os bancos) e estão a pagá-lo, e foi só isso, nada de errado ou pecaminoso. Com a entrada na CEE e os fundos de adesão que de lá vieram, é verdade que acabámos a viver melhor. Mas é lamentável ouvir e ler alguns – nem sequer políticos, antes fazedores de opiniões apressadas e pouco credíveis - tentarem demonstrar que a crise financeira que se estabeleceu no nosso país deriva de os portugueses terem vivido razoavelmente bem durante umas duas dezenas de anos, em casas bem cuidadas e com bom aspecto, com boas estradas, uma educação aceitável e uma saúde das melhores da Europa e do Mundo. Falar sequer nisso é uma falácia completa, e serve apenas para louvar e perpetuar a situação agora criada, cá e internacionalmente, que corre manifestamente a favor de alguns poucos e, portanto, em desfavor da maioria. E classificar Portugal como um país que só pode existir no terceiro mundo. E não o é, seguramente.
Incomoda-me, por um lado, ver como se pretende estender os erros cometidos por quem governa, aqui e por essa Europa comunitária fora, aos respectivos povos, incluindo o nosso, quando estes se limitaram a viver conforme as condições que lhes eram proporcionadas. Procura-se criar uma espécie de remorso colectivo, um sentimento de culpa, perfeitamente despropositado e sem razão de ser, que visa apenas desviar atenções de quem tem realmente toda a culpa. Não nos esqueçamos que a destruição dos nossos meios de produção foi uma imposição da Europa Comunitária, como moeda de troca pelo dinheiro que nos ia enviando.
Por outro lado, acho extraordinário ver incluída a Saúde, e os problemas que ela agora atravessa entre nós, com tendência para um agravamento progressivo, no pacote de causas da crise que nos assola. Ela começou muito antes a resvalar e a perder o pé, com a política do ministro Correia de Campos para o sector e a empresarialização que fez dos hospitais públicos. Foi essa empresarialização que levou ao desmoronar das carreiras médicas, e foi este simples facto que criou o substrato que está a fazer o Serviço Nacional de Saúde a pouco e pouco decair e soçobrar, ingloriamente.
O SNS continha em si, por obra do ministro António Arnaut e do seu Secretário de Estado Mário Mendes, com um contributo depois muito importante do ministro Paulo Mendo, uma estruturação que lhe permitia com naturalidade uma avaliação e renovação contínuas, com uma garantia permanente de qualidade, qualidade essa responsável última por ser um dos melhores do mundo a um preço dos mais baixos na Europa. E foram precisamente aquelas modificações introduzidas – e não a crise financeira, que é de agora – que levaram a um aumento desconforme da despesa, que o tornou, agora sim, de muito difícil sustentação.
Mas creio firmemente que esta será ainda possível, desde que se inverta o caminho percorrido na última meia dúzia de anos, e se recupere a hierarquização pela competência e provas dadas. É necessário reestruturar a Saúde, isto é, voltar a dar-lhe uma estrutura viva e actuante, porque neste momento é uma estrutura morta. E dum morto não se pode esperar nada de positivo.
Só com muito esforço é que poderemos sair desta crise. Um esforço partilhado por todos, funcionários públicos e privados, donos de empresas e bancos. Mas não será só com poupança. O povo agora tem de poupar porque não tem dinheiro, porque não lhe pagam o seu trabalho, porque o que deu para o Estado em impostos desapareceu juntamente com o que veio da CEE. Há que se gastar menos, sem dúvida, mas manter o país vivo. Poupar tanto e tão indiscriminadamente que o leve à morte não é solução. Poupar mas produzir, criar de novo condições para produzir, deve ser essa a tarefa de quem nos dirige e de nós todos. Que não é a mesma de quem nos emprestou dinheiro, esses apenas velam pelo retorno dos juros e do capital, por isso atenção que os conselhos e exigências deles são apenas nesse sentido, há que os adaptar à nossa sobrevivência.
Os cortes não podem ser indiscriminados e transversais, têm que ser bem dirigidos, cirúrgicos, poupando o que constitui a espinha dorsal do país. A saúde e a educação representam pilares da vida e da sobrevida do país, não podem ser desfeitas. Fundir, fechar, despedir nessas áreas fazem parte do problema, não da solução. Enquanto trabalhadores da saúde reorganizemo-nos, façamos o melhor possível, sigamos quem entre nós mostrar ser melhor, não é momento para tricas pessoais ou partidárias. Destruir, num país que já tem tão pouco, não é solução. Aproveitemos o que temos, rentabilizemos, deixemos duma vez por todas de ouvir os que conduziram a Saúde a isto, oiçamos outras ideias, que nos levem a ter aquele golpe de asa de que tanto precisamos. É apenas disso que precisamos, não dum milagre.
Carlos Costa Almeida

9.11.11

Mário Mendes e as Carreiras Médicas

O Serviço Nacional de Saúde foi uma obra administrativa notável, da responsabilidade do ministro António Arnaut e execução do seu Secretário de Estado da Saúde Mário Mendes, obra que dura há mais de três dezenas de anos, resistindo ao longo dos mais variados governos, de diversa orientação política, e agora debaixo de fogo cerrado. Uma obra que visava uma medicina de qualidade ao alcance de todos, tendencialmente gratuita, com o superior objectivo, larga e duradouramente conseguido, de dotar o nosso país com um sistema de saúde estatal de primeiro plano à escala mundial, e a baixo custo quando comparado com outros de qualidade similar em países ricos.
O SNS teve uma ligação estreita, indissociável, eu diria imprescindível, com outras duas realizações notáveis na área da saúde em Portugal: os Internatos Médicos e as Carreiras Médicas. Foi através deles – Internatos e Carreiras - que a formação médica pós-graduada e contínua se enraizou, produzindo profissionais de gabarito, que nada ficam a dever do ponto de vista teórico e prático aos colegas de topo dos outros países ocidentais. E foi por eles, num triunvirato ganhador com o Serviço Nacional de Saúde, que foi possível estender a todo o território nacional, ao seu interior, de onde antes os mais doentes eram penosamente deslocados obrigatoriamente para as três cidades universitárias do litoral a fim de poderem ser tratados, médicos especializados bem preparados, entusiasmados e prontos a fazer carreira, a ganhar notoriedade, na sua dedicação à profissão, com o retorno adequado em termos materiais mas sobretudo de êxito profissional oficialmente reconhecido.
Foi uma receita extraordinária esta, aplicada de maneira profícua, por homens cujo nome não deve ser esquecido, entre eles o Professor Doutor Mário Mendes, e onde compete também citar o Dr. Paulo Mendo. As Carreiras Médicas, em particular, permitiram equipar todos os hospitais, grandes e pequenos, centrais e periféricos, com profissionais bem preparados, e inclusivamente fazer a sua preparação localmente, criando verdadeiras escolas médicas hospitalares, com um papel que considero determinante na elevação da qualidade que se registou, traduzida objectivamente pela melhoria de todos os indicadores de saúde. Rapidamente se foi estabelecendo uma hierarquização pela competência, experiência e diferenciação técnico-científica, com repercussão decisiva na formação dos internos e na abordagem e tratamento dos doentes.
Tudo isto forneceu ao SNS uma estrutura, que era como que um esqueleto de suporte mas que ao mesmo tempo tinha todas as condições funcionais que lhe permitiam com naturalidade e eficiência autoavaliar-se, corrigir-se, evoluir. E foi o que fez durante mais de 30 anos, desde o seu começo pela mão do Professor Mário Mendes e do Dr. António Arnaut. Durante esse tempo convivemos com ele, naturalmente, dando-o como garantido, sendo para o país um assunto arrumado. Mas eis senão quando foram nele introduzidas, há poucos anos, alterações estruturais, modificações organizativas, mudanças de paradigma, anunciando-se objectivos que redundaram afinal em maus resultados, com a correspondente derrapagem dos indicadores de saúde e da classificação nacional no “ranking” internacional nessa área. Um dos pilares desmoronou-se mesmo – as Carreiras Médicas – e a estrutura restante tem sido severamente agredida. Teme-se pelo seu futuro, e é nesta altura que quem a criou é, naturalmente, lembrado. Com saudade, mas também com esperança, porque a recordação de êxitos passados torna possível acreditar em futuros. Mesmo quando no imediato tal não pareça possível.
Carlos Costa Almeida
De um livro de homenagem ao Prof. Mário Mendes a publicar brevemente

18.9.11

Recordando para memória futura

Há pouco mais de 6 anos houve uma mudança significativa na organização da Saúde no nosso país, com medidas que foram julgadas por alguns, desde logo, como lesivas a médio e a longo prazo, senão de imediato. Todas essas críticas foram liminarmente ignoradas, e as medidas propostas, incensadas por alguns e por muita da comunicação social, foram postas em execução, e mantidas até hoje.
Diz-se que um país que não tem em conta a sua História não tem futuro. O mesmo é válido para cada um de nós, e para as instituições, e para os ministérios. Incluindo o da Saúde. Na altura daquelas mudanças, e visando sobretudo as da área hospitalar, escrevi e publiquei um artigo, em papel e no blog da Associação Portuguesa dos Médicos de Carreira Hospitalar (medicoshospitalares.blogspot.com), depois inserido no livro “Farpas pela nossa Saúde” (ed. MinervaCoimbra), intitulado “Os dois Antónios do PS na Saúde”. Num momento de mudança de governo, e em que se esperam mudanças, será oportuno relê-lo. Dizia assim:
“O Dr. António Arnaut, advogado de Coimbra e membro antigo do Partido Socialista, foi o criador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), há mais de 25 anos. E ficou na História por bons motivos, "pai" dum serviço que neste último quarto de século funcionou perfeitamente, e que até há uns meros 5 anos a Organização Mundial de Saúde classificava em 12º lugar entre todos os sistemas de saúde do mundo, com o 5 º lugar na Europa e muito à frente do inglês e do norteamericano (37º), sendo apesar disso o que gasta menos entre todos os dos países da Europa dos doze. Um Serviço de Saúde verdadeiramente aberto a todos, ricos e pobres, nas cidades maiores e nas aldeias mais recônditas, tendencialmente gratuito, e permitindo com facilidade e "souplesse" a articulação com as Carreiras Médicas. Estas foram um passo decisivo na organização médica e na nossa formação pós-graduada, responsáveis por um avanço ímpar na nossa História em termos de preparação técnico-científica dos médicos, e sobretudo na sua homogeneização em todo o território, desde os hospitais maiores até aos mais pequenos e distantes dos grandes centros.
O outro António, o Dr. Correia de Campos, socialista mais recente, chegou ao Ministério da Saúde em 2002, saiu e voltou a entrar, e desde sempre tem demonstrado para com a Saúde uma preocupação economicista redutora, que coloca acima de tudo e de todos. Essa preocupação veio fixar muito claramente um preço à saúde, e à vida (habitualmente ditas sem preço), pondo cada vez mais restrições nessa área. Tem o objectivo confesso de poupar dinheiro com a saúde, o que justificou as medidas que tem tomado para alterar o SNS, e que ao que tudo indica vão pôr em perigo as próprias Carreiras Médicas. Apesar dessa preocupação, e das medidas que tem tomado, a despesa não pára de crescer, eventualmente pela sobrecarga administrativa e burocrática que elas próprias acarretaram. Obrigando a uma cada vez maior comparticipação financeira directa dos doentes, já agora uma das mais elevadas na Europa dos doze.
São estes os dois Antónios do PS em questão. Um ficou famoso, o outro vamos a ver. Tudo dependerá dos resultados.”
Pois bem, os resultados estão à vista, e a conclusão a tirar é por demais evidente. Inegavelmente coincidindo com as alterações introduzidas, a despesa com a Saúde disparou, as carreiras médicas, garante no nosso país de formação contínua adequada e de progressão na hierarquia da competência, da responsabilidade e do vencimento daí decorrente, foram aviltadas e destruídas, substituídas por uma trapalhada qualquer que já ninguém percebe o que é. Sucedem-se contratos e mais contratos, o mais díspares possível, uns pelo preço da chuva outros por valores milionários, sem qualquer explicação aceitável, à peça ou à hora, ou “por objectivos de produção”, como os administradores a quem os hospitais estão entregues gostam de dizer. A actividade científica desvanece-se, sem qualquer estímulo e carregada do ónus de ficar muito cara, e a qualidade da medicina praticada diminui a olhos vistos (para quem queira ver), já com sinais preocupantes como o aumento da mortalidade por tuberculose e a recrudescência da mortalidade infantil, com o acesso global dos doentes aos cuidados de saúde a remeter-nos actualmente para o 27º lugar na Europa (numa queda a pique de 22 lugares). E falamos em apenas meia dúzia de anos.
Ao fim de tão pouco tempo, a medicina hospitalar portuguesa ficou num beco sem saída, do qual, a manter-se tudo como está, não tem meios para recuar. Por via das mudanças introduzidas pelo segundo dos Antónios citados. Mas estas mudanças poderiam, a par do desmantelamento da estrutura que suportava a qualidade, ter pelo menos levado a poupar algum dinheiro, o que, eventualmente, ainda deporia a seu favor. Mas não, dos hospitais empresarializados daquele modo um terço estão considerados falidos, e note-se que isto, dito assim, é, como todos sabemos, demasiado lisonjeiro para os outros dois terços.
Foi sobre este desastre que se veio agora abater a crise financeira que nos aflige. Urge modificar as coisas, poupar, com certeza, mas não apenas com cortes cegos e sem olhar a quem ou a quê. É preciso acima de tudo corrigir o que de mal foi feito e levou ao estado actual, e que foi repetidamente detectado, exposto e discutido. E é isso que numa hora de mudança se espera.
Sim, é possível corrigir, reestruturar, recuperar a qualidade e a eficácia, e com elas poupar muito, melhorando. É a qualidade que acaba por ficar mais barata. Mas é preciso mudar, e isso não se consegue continuando a ouvir, a publicar, a seguir, muitos daqueles que contribuíram para o que foi feito erradamente. Por muito que digam agora, a sua obra está aí. Fala por eles. Oiçam-se outros, sigam-se outros. Não se queira ignorar a História, porque se o fizermos corremos o risco de repetir os mesmos erros. Ou, neste caso, continuá-los, o que será, além do mais, incompreensível já no momento presente.
Carlos Costa Almeida, APMCH

30.8.11

A PIOR CRISE NÃO É A FINANCEIRA

O nosso país vive mergulhado numa crise financeira para a qual, afirmemos sem qualquer peso na consciência, nós todos pouco ou nada contribuímos. Trabalhámos, exercemos a nossa profissão, ganhámos dinheiro, gastámos, pagámos impostos, alguns pediram dinheiro emprestado aos bancos (que é para isso que servem os bancos) e estão a pagá-lo. Incomoda-me ver como se pretende agora estender os erros cometidos por quem governa, aqui e por essa Europa comunitária fora, aos respectivos povos, incluindo o nosso, quando estes se limitaram a viver conforme as condições que lhes eram proporcionadas. Procura-se criar uma espécie de remorso colectivo, um sentimento de culpa, perfeitamente despropositado e sem razão de ser, que pretende apenas desviar atenções de quem tem realmente toda a culpa.
É lamentável tentar demonstrar que a crise financeira que se estabeleceu no nosso país deriva de os portugueses terem vivido razoavelmente bem durante umas duas dezenas de anos, em casas bem cuidadas e com bom aspecto, boas estradas, uma educação aceitável e uma saúde das melhores da Europa e do Mundo. Falar sequer nisso é uma falácia completa, e que, não inocente, pretende apenas louvar e perpetuar a situação agora criada, cá e internacionalmente, que corre manifestamente a favor de alguns poucos e, portanto, em desfavor da maioria. E classificar Portugal como um país que só pode existir no terceiro mundo. E não o é, seguramente.
A verdade indesmentível é que o Serviço Nacional de Saúde, como serviço do Estado aos seus cidadãos, foi criado e funcionou bem com um gasto mínimo durante três dezenas de anos. E digo mínimo porque, embora consumisse cerca de 10 por cento do PIB (dentro da média dos países da Europa da CEE), era o que em valor absoluto gastava menos, muito abaixo dos outros. E com uma qualidade muito próxima da dos melhores. Mas há uma meia dúzia de anos um ministro resolveu que havia que modificar tudo isso, e modificou. A desculpa apresentada foi a sustentabilidade económica – segundo ele, em perigo. Acontece que, contrariamente às intenções anunciadas, passado este tempo a despesa com a Saúde é cada vez maior. E a qualidade deteriorou-se, e agrava-se a cada momento que passa, desorganizou-se a estrutura profissional hospitalar, com uma desierarquização que limita o desempenho das equipas, lhe baixa o nível e o torna por isso mais caro, para além de emperrar inevitavelmente a formação, actual e, sobretudo, futura. Isto paralelamente a ser tornado crescentemente mais difícil o acesso dos doentes aos cuidados de saúde. Mas detenhamo-nos por um momento nas condições hospitalares que ajudam a explicar todos estes factos.
A empresarialização dos hospitais inventada e posta em execução pelo ministro Correia de Campos levou de imediato à desvalorização e inoperabilidade das carreiras médicas, na prática à sua destruição, pese embora os concursos que vai havendo para os resistentes. Concursos sem qualquer repercussão prática, uma vez que os lugares de chefia – que devem forçosamente ser também de orientação técnica e direcção científica – têm sido entregues a quem calha, por razões não ligadas aos conhecimentos médicos, provas dadas, capacidade profissional, e só por acaso estão atribuídos a quem deveriam estar.
Esse desprezo administrativo pela competência profissional dos médicos vai ao ponto de se contratarem recém-especialistas pelo dobro ou o triplo do ordenado dos que estão no topo da carreira, mesmo que alguns destes estejam encarregados dos respectivos Serviços. Quer dizer, os responsáveis ganham metade ou um terço do que os mais jovens, que eles próprios ajudaram a formar, ganham. Para além disso, a dita empresarialização permitiu que alguns médicos, por razões obscuras (para dizer o menos), saíssem das carreiras e fizessem um contrato individual de trabalho, no mesmo hospital e para as mesmas funções, por valores milionários, quando outros permaneciam nas condições monetárias anteriores.
A desestruturação dos hospitais, entregues aos serviços administrativos, permitiu a destruição de Serviços e a contratação e subcontratação ad hoc de profissionais, à tarefa ou à peça, com “objectivos de produção”, sem qualquer interesse ou proveito na formação e na actividade científica, estas fundamentais nos hospitais enquanto escolas médicas profissionais responsáveis pela criação e manutenção de bons profissionais.
É evidente que todas estas aberrações, em muitos casos exemplo de má gestão e prepotência, senão nepotismo e favorecimento pessoal (termos caros para “amiguismo”), não poderiam dar bom resultado. E não deram, e a situação de catástrofe que se vice actualmente na Saúde, a ser afastada dos doentes, com um défice financeiro monumental e rapidamente crescente, e uma qualidade cada vez mais periclitante, a elas se deve em grande medida. Para além do despesismo administrativo, com a miríade de administradores que invadiram os hospitais e com os gastos sumptuários correspondentes, em invenções informático-administrativo-electrónicas, muito interessantes e modernas com certeza mas que sobejam a quem, com pouco dinheiro disponível, só queria tratar doentes.
Não sei se a reforma implementada na Saúde visava estes maus resultados nos hospitais, mas teve-os. Não há como negá-lo, temos sim de os corrigir, na medida do possível. Já vem do governo anterior uma tímida intenção de modificar o que está mal na organização dos hospitais, mas condenada por certo ao fracasso quando se encarregam da reconstrução os responsáveis pela destruição. E eles aceitam. Mais uma vez deixando-se os críticos, que ainda por cima mostraram ter razão, completamente fora do processo.
Como se vê, a crise na Saúde não deriva da crise financeira, é-lhe anterior em meia dúzia de anos e é muito pior, mais profunda e delicada. Há que procurar resolvê-la, e creio que é possível fazê-lo, mesmo com as dificuldades económicas agora acrescidas, sem tratar mal os doentes ou excluí-los de tratamento, e respeitando os profissionais, o que implica remunerá-los adequadamente e dar-lhes as condições de trabalho e de formação contínua necessárias. Não é uma questão de mais ou menos dinheiro, será uma questão de sistema, de organização, privilegiando e responsabilizando, nas instituições que tratam doentes, precisamente quem trata os doentes.
Carlos Costa Almeida, in Tempo Medicina

19.6.11

Encerramentos, fusões e outras racionalizações

Tornou-se francamente evidente a evolução negativa que a Saúde no nosso país sofreu de há pouco mais de meia dúzia de anos para cá, e de que nós desde o início viemos falando. Foi desde que a organização interna dos hospitais foi modificada, dando-se primazia à parte administrativa e esquecendo-se, ou pondo-se de parte, a clínica. Com a destruição das carreiras, as nomeações puramente políticas para os lugares de chefia intermédia, e a desestruturação interna que daí resultou, que se repercutiu na qualidade e no custo da assistência e também na formação dos profissionais médicos. Com os gastos enormes com a gestão, incluindo tudo que é material e programas informáticos, relógios de ponto electrónicos, prescrição electrónica, tudo electrónico e caro num país que não tem dinheiro para pagar as dívidas e tem pouco para tratar os doentes.
Portugal está classificado agora em saúde nos últimos lugares europeus, quando era dos primeiros, a mortalidade infantil aumentou pela primeira vez em 20 anos e a morte por tuberculose recrudesceu. As pessoas pagam cada vez mais pela sua saúde, e isso vai-se agravar pelas medidas impostas pela “troika”. Mas com a qualidade a diminuir e a formação médica comprometida, os gastos e o prejuízo aumentaram exponencialmente. Quanto mais modificações se fizeram, mais a qualidade e a formação diminuíram e o prejuízo aumentou.
Não vale a pena meter a cabeça na areia, e tentar fugir para a frente: o prejuízo virá atrás de nós. Com o descalabro financeiro crescente, e em vez de emendar a mão e reconhecer os erros de gestão cometidos, tentou-se poupar “racionalizando” meios, o que na prática correspondeu apenas a encerramentos, de centros de saúde, serviços de atendimento permanente, maternidades, serviços hospitalares, urgências e hospitais, agora noutra modalidade, a das fusões. Fundir 2 ou 3 hospitais, ou 8, como se fala em Coimbra, é reduzi-los a 1 e encerrar os outros, diga-se lá o que se disser. Com a redução de oferta e as limitações daí resultantes, bem como as consequências negativas para a economia da região envolvida.
Os que trabalham na Saúde, sobretudo nos hospitais, sabem o que se passa, mas às vezes é bom pormo-nos no lugar dos doentes. Foi o que aconteceu comigo há uns tempos atrás, quando uma pessoa da minha família, muito chegada e querida, teve um AVC e foi por isso transportada de urgência para o centro hospitalar que serve a sua área de residência. Recebida e estudada lá, cedo o neurologista de serviço se apercebeu que a doente estava também a ter um enfarte do miocárdio. Aí surgiu o problema: para evitar “redundâncias”, a Cardiologia daquele centro hospitalar é noutro hospital, a umas dezenas de quilómetros de distância daquele. Que fazer? Tratar mal o enfarte (por alguém não especializado), ou enviar a doente noutra viagem de ambulância em plena fase aguda de duas situações patológicas graves, e depois ser mal tratada do seu AVC? Bom, esse problema acabou por ser resolvido pela própria doente, quando passado algum tempo morreu, ainda no primeiro hospital. Teria chegado a sua hora? Não sei, mas aquela falta de redundâncias não ajudou nada… Nem ajudou ou vai ajudar outros. Serão muitos ou poucos?... Para mim chegou que fosse uma…
Mas a minha experiência recente como familiar de doente não se ficou por aqui. Um irmão daquela senhora tem insuficiência renal crónica, e faz hemodiálise numa clínica ligada a um hospital daquele centro hospitalar. Teve um problema respiratório agudo, foi obrigado a ir a outro; mas as queixas cardíacas que também apresenta não são para esse… e a correcção cirúrgica do seu acesso vascular para hemodiálise também não. Mas que dificuldade que os médicos que tratam este doente devem ter em encontrar-se e falar sobre ele! Bom, com certeza não falam. Provavelmente cada um o trata de per si, com as redundâncias que, aí sim, se podem imaginar e, se calhar, os maus resultados.
Quase tudo que foi feito pelo governo nos hospitais portugueses nos últimos anos resultou mal, ou teria resultado melhor se fosse feito doutra maneira. Para quê continuar o mesmo caminho?! Que quem entra agora não acredite no “marketing” de quem sai, com o fracasso camuflado por projectos mais ou menos grandiosos e palavrosos mas balofos e sem sentido. Avalie-se o que foi feito, objectivamente, corrija-se o que está mal, reorganizem-se os hospitais, redimensionem-se, reconstitua-se a sua cadeia hierárquica, nomeie-se quem tecnicamente deve ser nomeado. Aproveite-se o que se tem, não se destrua para construir algo que está condenado ao fracasso logo à partida.
Não se destruam hospitais centrais que funcionam bem há muitos anos, com o agrado dos doentes, só para seguir o que apareceu um dia numas linhas escritas à pressa num decreto lei, para encher espaço e completar umas 50 medidas prometidas, sem qualquer projecto ou estudo prévios! Que depois nos são apresentadas como ideia duma “troika” que de saúde saberá tanto como nós de empréstimos a juros. E que ao mesmo tempo nos quer reduzir também a educação e a justiça, coisas que, a par da saúde, só interessam aos pobres indígenas falidos que nós somos, e não a quem nos emprestou dinheiro e quer sobretudo os juros dele.
Tenha-se a coragem de avaliar o que foi feito, e não se queira corrigir o que está mal com quem foi causa disso. Há que recorrer por uma vez a outros, a quem criticou esta política e tem ideias diferentes e concretas, encarar a Saúde doutra maneira, ter o golpe de asa que a Saúde em Portugal precisa. E o País também.
In Tempo Medicina, Carlos Costa Almeida

20.2.11

EM RODA LIVRE

Dois mil milhões de euros de prejuízo acumulado na Saúde. Ou quatro mil milhões, há quem o afirme… O Ministério da Saúde diz que não é tanto, embora não saiba bem quanto é… Mas dá-se por muito feliz, em conferência de imprensa convocada expressamente para tal, porque neste Janeiro a despesa diminuiu 6% em relação ao mês de Janeiro de há um ano. Por acaso no mês em que o Governo ficou com 5 a 10% dos vencimentos dos trabalhadores da Saúde, incluindo de horas extraordinárias feitas há vários meses…
Mas pronto, diminuiu o gasto. O que em si seria bom, não fôra o dinheiro fora do bolso dos funcionários e a poupadeira com medicamentos, cada vez mais a cargo dos doentes. Os portugueses já são, de longe, os cidadãos europeus que mais pagam para a saúde, para alem dos seus impostos. Os que podem pagar, porque cada vez mais há quem não tome os remédios de que necessita por não ter dinheiro para os comprar, o que equivale a uma poupança, claro… A isto juntou-se a continuação do encerramento de serviços de urgência, de maternidades, de centros de saúde e de centros de atendimento permanente, a fusão de hospitais (que mais não é que um forma encapotada, mas grosseiramente à vista de todos, de reduzir serviços, equipas e, se calhar, e se for preciso poupar ainda mais, hospitais), a limitação e encerramento de consultas, a eliminação de alguns centros únicos e de ponta, a falta de material e de assistência em vários hospitais públicos, com necessidade por via disso de peditórios e quotizações de doentes e funcionários para se poder continuar a trabalhar com um mínimo de qualidade.
Tudo isto surge em catadupa, em desespero, e sem o Governo dar mostras de ser capaz de equilibrar as finanças da Saúde nacional por outro modo que não seja a redução de despesa com muito do que nos é essencial. Um modo que (tal como, classicamente, fazem as empresas em dificuldade da nossa terra) passa por reduzir os ordenados dos trabalhadores, caminhando depois para o seu despedimento… antes de, finalmente, declarar a falência, inexorável em quem só poupa e não aumenta a produção e o rendimento.
Na realidade, é todo um frenesi em poupar. Mas a par de gastos que não seriam sequer imagináveis antes de se mudar a administração dos serviços de saúde! Gastos e gastos em produtos informáticos os mais variados, num alarde de “novo-riquismo” que até seria cómico não fôra a falta de dinheiro para tanta coisa mais importante. A abundância de pessoal administrativo, quando se pretende desesperadamente reduzir o pessoal médico e de enfermagem. Os contratos individuais de trabalho feitos, por critérios que Deus saberá, por valores muitos deles absolutamente inesperados e impensáveis em relação aos ordenados dos pobres dos “funcionários públicos” que ainda existem. Os prémios de “produtividade” distribuídos entre gestores de hospitais estatais, no meio de inúmeras medidas de contenção para os doentes e para os restantes trabalhadores desses hospitais.
É claro que tudo isto afecta necessariamente a qualidade dos serviços de saúde, nomeadamente dos hospitais, o que muito rapidamente se tornará evidente mesmo para os próprios doentes. Começa a haver sinais de falta de assistência às populações, com manifestações repetidas nas ruas, coisa impensável há meia dúzia de anos atrás. A saúde é já o segundo problema na mente dos portugueses, depois do desemprego, quando no início da década era um assunto resolvido.
O primeiro grande sinal de alerta deveria ter sido a descida abrupta de Portugal no ranking internacional da qualidade em saúde. Agora, foi o aumento da mortalidade infantil, depois de 24 anos a descer, coroa de glória do nosso Serviço Nacional de Saúde, e que assim é comprometida. Depois disto será que vamos todos continuar a assobiar para o lado, juntamente com o Governo?! É que este descalabro vem de trás, da última meia dúzia de anos, não tem nada que ver com a actual crise financeira internacional, nada mesmo.
Mas o pior ainda não é o que atrás se descreve. O pior é que de todas as mudanças que foram feitas nos hospitais do Estado, para além do desastre económico-financeiro que só não vê quem não quer ver, resultou uma situação de desestruturação que retirou aos hospitais o esqueleto que lhes permitia fazer a formação pós-graduada, a avaliação da sua actividade clínica e científica, a escolha dos mais capacitados para as várias funções de direcção e de orientação. Juntamente com isso, e grandemente por causa disso, os mais preparados têm vindo a abandonar os serviços públicos, e estes, ainda a pairar pela vis a tergo, aproxima-se o momento em que se irão estatelar no solo. Ora se é neles que desde sempre se fez a preparação dos especialistas neste país, onde irá ela ser então feita?!
Ao destruírem-se serviços e hospitais (incluindo os que foram, ou estão prestes a ser, destruídos pelo processo de fusão, agora na moda), inutilizou-se bruscamente o trabalho de décadas, de muitos e muitos profissionais que foram criando uma escola, de transmissão progressiva de conhecimentos e experiências, que é assim que se transmite o conhecimento médico desde que ele se escreve e se estuda, desde o seu criador, Hipócrates. Estas medidas destroem tudo duma penada, por despacho, aparentemente sem consciência do que está a ser provocado, e da repercussão que irá ter nas próximas dezenas de anos. Porque destruir pode ser rápido, reconstruir leva sempre muito tempo.
Quer dizer, a Saúde continua na sua descida, sem controlo, em roda livre. Por uma ladeira abaixo, sem que ninguém pareça ser capaz de lhe deitar a mão e colocar um travão. Para já só precisa dum travão, depois se verá.
Muito do que atrás é registado, e que temos apontado quase desde o início das chamadas “reformas da saúde” actualmente em curso, já começou a ser evidente mesmo para quem o provocou, ajudou a provocar ou simplesmente aceitou. E esboça-se aqui e ali um esforço político para o corrigir, mas através de comissões formadas pelos mesmos de sempre… Quem desde o início apontou o que agora se vê claramente que está mal, continua teimosamente a ser deixado de fora. Esquecendo-se nessa fuga para a frente o aforismo que diz que “a causa dum problema não pode fazer parte da sua solução”.
In Semana Médica



14.1.11

Não estamos fartos de falar nisto?!...

A DEBANDADA

11-01-2011

Consultada a lista de Aposentados publicada pela Caixa Geral de Aposentações, referente a Fevereiro de 2011 (DR, 2a série, n°5, 7 de Janeiro de 2011, páginas 859 a 863) verificamos que a debandada continua.
Nesta listagem são 109 os médicos aposentados do serviço público, um recorde para um único mês. Mas, mais grave, muito mais grave, é que dos 109 médicos aposentados do SNS, 65 são Assistentes Graduados e 34 são Assistentes Graduados Seniores (ex-Chefes de Serviço) contribuindo para o decapitar do conhecimento e da diferenciação que porá em risco a capacidade e idoneidade formativa de muitas especialidades médicas e cirúrgicas. Nesta listagem nem escapam famosos cirurgiões, assessores no Ministério da Saúde, dirigentes sindicais, antigos presidentes de Conselhos de Administração.
O SNS corre um risco sério de derrocada. Os que ficam clamam por meios e, mesmo trucidados pela penalização bruta de uma eventual saída antecipada, não hesitarão em pirar-se logo que possível e financeiramente viável. Os que não podem sair vão estoirar perante exigências crescentes de serviços e equipas depauperadas, alimentando eles próprios os absentistas por doença.
Na João Crisóstomo - não passa nada!!! 110 querem voltar! (embora só seja certo o regresso de 39 - os que estão em DR). Inevitavelmente vamos ter de encerrar serviços e concentrar especialidades. Não sabemos é se ainda temos tempo de o fazer de forma racional, pensada e estruturada ou se vai mesmo ter de ser à patada e logo se vê, como é timbre de quem só pensa dia-a-dia.
O SNS, serviço público cobiçado, elogiado, estudado e copiado, está em declínio acentuado, abrindo espaço para manobras salvadoras de pensadores e gestores liberais.
Foi bonita a festa, pá!
Documento retirado do Site do Sindicato Independente dos Médicos - Simedicos.pt

1.1.11

FUSÃO DE HOSPITAIS CENTRAIS - opinião pedida pela LAHC

A Liga de Amigos do Hospital dos Covões (LAHC) pediu à nossa Associação (APMCH) uma opinião acerca da anunciada fusão dos hospitais centrais de Coimbra, CHC e HUC. Hospitais que significativamente têm, ambos, ligas de amigos, demonstrando o bom serviço que têm prestado às comunidades onde estão inseridos e que servem, isto é, Coimbra e toda a Região Centro.
Um hospital, como unidade funcional que é, leva muitos anos a formar-se e a impor-se como uma referência digna de ter uma liga de amigos. Há 37 anos que o Hospital dos Covões (núcleo do CHC) foi constituído, e dele dependeu directamente o extraordinário desenvolvimento da margem esquerda da cidade, onde antes dele eram só  campos e azinhagas. Na realidade é tudo isso que está em causa, com uma decisão aposta num orçamento de Estado que ainda está para se ver se não vai, ele próprio, revelar-se desastroso para o País. Uma fusão de hospitais significa, na verdade, a anulação de cada um deles (HUC incluído, por isso a sua Liga de Amigos, LAHUC, irá ter também de mudar de actividade e de nome), mergulhados num conjunto, neste caso gigantesco, de pessoas, serviços, unidades, departamentos, laboratórios, englobando tudo e todos e talhados artificialmente segundo a vontade política do momento e que levou à sua execução. Coimbra ficará com um único hospital central, e com a única urgência polivalente da região centro. Quer dizer, para quase três milhões de habitantes irão ter de se criar mais dois hospitais centrais, com as suas urgências polivalentes, fora de Coimbra, noutras cidades. Longe do centro de conhecimento médico que Coimbra ainda é, mas que a pouco e pouco irá deixando de ser, com esta descentralização. Para quem quer concentrar tudo (hospitais, escolas, serviços administrativos), parece que de Coimbra se quer é descentralizar - para concentrar noutra cidade?... Longe da sua Universidade?...
Um hospital grande em demasia não é governável nem rentável. Chegou-se a essa conclusão nos anos 70, e desde então a evolução tem sido criar hospitais mais pequenos e eficientes e cindir os demasiadamente grandes em vários mais pequenos e manobráveis. O que não quer dizer que esses não possam e devam colaborar entre si. A ideia de CHUC (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) deveria centrar-se antes num grupo de unidades hospitalares (que já existem, formadas e funcionantes), adequadamente dirigidas e geridas, ligadas à Universidade, à investigação e ao ensino da medicina e actividades afins, melhorando tudo e todos. E dificilmente um monstro criado fora do seu tempo, por razões políticas e economicistas, poderá servir esse objectivo.
APMCH, 1 de Janeiro de 2011